A educação se mostra, atualmente, como área estratégica para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país. Para além disso, surge como a área-chave no...
ler maisSou filha de uma costureira e de um pai amoroso, porém alcoolista. Sempre amei as letras, as palavras, as frases, os textos, os livros. Encontrei neles a forma de fugir da realidade, de construir outra realidade e de mudar a realidade de muitas pessoas. Meu oficio sempre foi escrever, descrever e reescrever. Vejo as infinitas possibilidades de combinação de letras e palavras e enxergo ali todo o potencial que uma palavra tem para mudar o mundo.
Dos diários da adolescência às cartas de amor, sempre estive cercada de palavras. A folha em branco sempre foi um convite perfeito para um novo começo, para uma nova história.
Com 17 anos, aluna de escola pública e sem muitos recursos, sonhava em ser “alguém”. Passei no vestibular para o curso de Ciências Econômicas na UFMG e, contrariando as previsões otimistas da profissão de Economista, nunca fui bem-sucedida na área nem feliz naquele lugar. Via pessoas totalmente diferentes em termos de educação, prestígio e formação. Ali entendi o sentido da expressão (desgastada mas real) “desigualdade social”. Eu era uma estranha naquele mundo. Eu trabalhava à tarde e à noite e estudava pela manhã. Tudo muito “injusto” na minha visão ainda adolescente. Eu não tinha dinheiro para lanche, festas, roupas… Eu ajudava em casa com as contas da família, era esforçada, por isso aquele mundo estava muito longe de mim.
Eu tinha informação. Não planejei ficar grávida tão jovem. Mas aconteceu. Com a certeza de que daria conta, saí da casa dos meus pais. O desejo era me libertar de brigas advindas da bebedeira do meu pai, da hostilidade típica de onde há pouco dinheiro e muitos irmãos. Não sinto que faltava amor no meu lar. Mas faltava harmonia. Eu sempre precisei de tranquilidade, de calmaria. Sempre preferi as águas serenas proporcionadas pela rotina.
Ato realizado é ato passado, e nada poderia me fazer desistir da vida que eu gerei. Continuei no curso de Economia fazendo todas as economias possíveis para criar a menina dos meus olhos: “Júlia”. Uma casa de 45m2 financiada pela Caixa num programa estilo “Minha Casa Minha Vida” era o que eu podia ter, e me fazia feliz. Dez anos de financiamento, e a certeza de que as coisas dariam certo. Lembrava-me sempre da mãe da Cinderela: “Seja gentil e tenha coragem”. Era isso que a vida esperava de mim, e era exatamente isso que daria a ela. Coragem e gentileza.
Curso avançando, parto inevitável, vida seguindo como a de todo mundo. Então, comecei a dar aulas de matemática com o antigo CAT (autorização para lecionar concedida pelo MEC a graduandos de áreas específicas). Como nada é simples, comecei a ter problemas na minha vida pessoal. Agora, vivia brigas na minha casa. Os conflitos com o pai da minha filha ganharam um contorno mais amargo no lar que construí com pouco dinheiro, uma filha recém-nascida e alguém que precisava de ajuda.
O mundo parecia não compreender a minha necessidade de paz. Abri mão do meu primeiro marido, do pai da minha filha, de alguém que poderia ter me apoiado se não estivesse precisando de ajuda. Escolhi criar a minha Júlia longe daquele ambiente tão parecido com o ambiente em que cresci. Tenha coragem e seja gentil. Eram as palavras que ressoavam no meu coração. Eu não desisti. Eu não desistiria nem de mim nem da minha filha. Fora da casa dos pais, desencaixada do curso de Economia, sem um “anjo protetor”, mas cheia de determinação.
Na lista dos aprovados da UFMG de 2001, a esperança. Entre os classificados para a graduação em Letras, lá estava a filha da costureira tentando remendar sua história. Da matemática para o português, a transição foi suave. Nas palavras, encontrei apoio e consolo. Nas palavras me encontrei.
Aos 22, o mundo conspirava a meu favor. Estudava pela manhã, dava aula à tarde e à noite, minha mãe olhava minha filha e, finalmente, eu adorava o meu trabalho e a minha graduação. Nos cursos de licenciatura, as pessoas, em geral, são menos favorecidas economicamente. Vi minha história em tantas outras histórias, que conheci naquele espaço.
Aos 23, conheci o primeiro aluno especial da minha vida: Júlio César. Eu não tinha nem televisão em casa por falta de grana. Como ia namorar um aluno de supletivo que morava na Zona Sul? As coisas aconteceram naturalmente. Encontrei nele um amigo, um homem disposto a me ajudar a educar minha filha e despreocupado com o fato de eu ter vindo “de baixo”. O primeiro presente foi a televisão, o mais generoso foi o tratamento de dente da minha mãe, e o mais especial foi o meu segundo filho: Víctor.
Mas a vida é cíclica. Quando tudo ia bem, minha mãe adoeceu. O amor não durou tanto quanto a amizade que ainda temos, e veio o segundo divórcio. Minha mãe faleceu de câncer, meu pai faleceu de câncer. Meus filhos foram a um só tempo meu porto e meu conforto. Enfim, adulta. A vida real é assim.
Em 2004, a formatura, novos empregos e uma descoberta: é muito bom ajudar os outros. Resolvi participar de grupos de voluntários como forma de compensar o universo pelas oportunidades. Meus pais, e em especial minha mãe, serão sempre uma lacuna sem solução. Crianças, enfermos, idosos eram agora uma outra família que adotei para me conhecer melhor e para compreender que existe “sofrimento” além de mim.
Todos os meus problemas se tornaram pequenos. Minha infância sem recursos. A gravidez no fim da adolescência. A jornada exaustiva de longas horas de trabalho e estudo. Tudo era muito pequeno perto da vida dura de outras tantas pessoas.
Das escolas, para os cursos de CEFET/COLTEC, dos cursos para os pré-vestibulares, dos pré-vestibulares para o Concurso Público. Eu precisei de coragem e de ajuda. Muita gente no caminho me estendeu a mão. Ninguém nega ajuda a quem pede. Sempre recebi o apoio de colegas, parentes próximos e distantes. Sempre pude contar com a minha irmã na falta dos meus pais. Sempre pude contar com meu tio Roberto e com minha tia Eliana. Não me faltou apoio e inspiração para sonhar.
Alguns concursos de literatura me ajudaram a melhorar de vida. Prêmios por crônicas, poesias e até por contos eróticos (por que não? Até Machado de Assis se aventurou na literatura erótica!).
E do aluno especial passei ao professor especial. Mais um casamento. Mais uma experiência gratificante e outro filho: Tatá (Otávio). Nos corredores da escola em que trabalhávamos, encontrei espaço para aprender a me divertir. Com pouco mais de 30 anos, nunca tinha tido tempo nem dinheiro para passear. Eu estava disposta a desfrutar um pouquinho das coisas que plantei.
Em 2012, minha vida mudou mais uma vez. A essa altura, eu já era uma professora reconhecida, com bons vencimentos e muito prestígio. Mas eu não estava feliz. Queria meus filhos com mais acesso ao meu trabalho. Queria mais autonomia para as aulas e para os materiais usados em sala. Queria empreender.
Grávida de quatro meses, abri mão de um bom emprego CLT para investir no que eu acreditava. Não recebi muito apoio para o projeto. Amigos e familiares, obviamente, me orientaram a esperar, pelo menos, o Otávio nascer. Eu não podia. Queria ter liberdade para amamentá-lo. Queria fazer do meu trabalho um reflexo da minha vida. Montei um portal on-line de aulas de português e uma sala presencial. Minha vida mudou completamente depois disso. Investi todas as minhas energias (e recursos financeiros) em um projeto de vida, que deu certo.
Empreendo há mais de 10 anos sem nunca ter tido uma única ação trabalhista. Na minha visão, isso não é mérito. É obrigação. As relações de trabalho devem ser justas e colaborativas. Passamos muito tempo no trabalho e com as pessoas com quem trabalhamos, logo precisamos estabelecer parcerias para o progresso e para o sucesso de todos.
Um ano depois de abrir o curso, para quebrar a lógica da felicidade – que nunca dura para sempre –, a palavra câncer veio me assombrar de novo. Um rim ruim. Agora, eu estava doente. Acho que com 33 anos, um filho de apenas um ano e outros dois um pouquinho mais crescidos, eu merecia estar saudável. Mas eu não estava. E, no dia 20 de dezembro, abri mão de um rim ruim para buscar minha felicidade. Foram oito horas de cirurgia. Na minha cabeça, ressoavam as velhas palavras que embalaram meus sonhos ao longo da vida: “Seja gentil e corajosa”.
Não poderia culpar Deus, meus pais ou quem quer que fosse. Poderia aproveitar para aprender com aquilo tudo. Àquela altura, já morava em um apartamento quatro vezes maior que a minha primeira residência, tinha três filhos, três ex-maridos, alguns livros publicados e um rim ruim. Não dava para abrir mão de tudo por causa da doença. Apenas tirei o rim ruim para seguir mais leve.
Toda caminhada é cheia de desafios. Houve dias muito desafiadores tanto na minha vida pessoal quanto na profissional, mas os dias bons sempre superaram os dias ruins.
Agora, tenho um projeto pessoal ousado. Quero ser Deputada Federal. Sei que a política, no Brasil, é desafiadora e desanimadora. Mas como mudar essa realidade sem fazer parte dela? A minha vida não foi fácil. Então, aceito o desafio de ser parte das mudanças que, com certeza, você, que me lê, também deseja para o Brasil.
A abertura a novos nomes na política é quase zero! Dos 513 deputados federais, 407 tentam a reeleição. E, obviamente, as chances de quem não está no cenário político são menores. Isso não me desanima. Isso não me paralisa. Isso reforça o meu propósito: ser parte da mudança em que acredito.
Sou mãe, professora, escritora, empreendedora, palestrante e quero ser política! Sou suplente de deputada federal (2018) e suplente de vereadora (2020). Cheguei muito perto de ser eleita nas duas eleições de que participei. Nas duas últimas campanhas, usei somente recursos próprios. Não é simples receber apoio de partido. O meio político é muito fechado a novos nomes. Mas não posso desistir de um projeto em função das dificuldades. É preciso coragem e gentileza para mudar o que não está certo.
Existem mil pontos negativos para a decisão (exposição, perseguição, corrupção…), mas só reclamar da política não vai mudar sua realidade. Se não houver um movimento real de renovação (seguido de cobrança e de fiscalização por parte de toda a sociedade), continuaremos sofrendo os impactos de políticas públicas ruins ou inexistentes.
Tenho uma carreira consolidada, tenho uma vida confortável. Mas, em um espaço político, eu ganho a oportunidade de mudar vidas. Ganho a responsabilidade de representar cidadãos que buscam, como eu, um país melhor. Sei que é uma “briga” de gente grande! Porém não posso desistir. Desistir nunca foi uma opção para mim.
Bons nomes vêm surgindo como opção de voto, mas perpetuamos os mesmos representantes há anos. Mesmo que tímidas, as mudanças estão acontecendo. Os eleitores querem compromisso e probidade para quem busca uma vida pública. Hoje, as pessoas têm mais acesso à informação, pesquisam mais sobre os candidatos. Assim, coloco o meu nome à disposição para as mudanças que todos nós desejamos.
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ler maisAtua na capacitação de professores tanto na rede privada quanto na rede pública de ensino. É palestrante em âmbito didático, motivacional e gerencial. Há mais de 20 anos neste segmento, vem encantando, com seu carisma e dedicação, alunos, professores e profissionais de diversas áreas.
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